
Analistas temem que essa taxa cresça com liberação do crédito consignado
Aumento para R$ 600 do Auxílio Brasil não melhorou a vida financeira das famílias
Crédito consignado em programas sociais vai contra o caráter de proteção social, afirma especialista
Uma pesquisa do PoderData apontou que quatro em cada dez pessoas que recebem o Auxílio Brasil estão inadimplentes, isto é, com dívidas vencidas não pagas. Segundo a pesquisa, são 43% dos beneficiários que se encontram nessa situação.
A pesquisa foi realizada entre os dias 14 e 16 deste mês, ou seja, após a realização dos pagamentos de R$ 600 para as famílias. A ideia era justamente avaliar o impacto desse aumento no orçamento familiar. No entanto, os dados apontaram que o impacto foi mínimo. Em julho a taxa de inadimplentes era de 47%, ficando dentro da diferença de 2% de erro percentual. Já em maio esse percentual era de 50%.
Crédito Consignado
Com base nos dados, analistas mostraram preocupações quanto à liberação do crédito consignado para beneficiários do Auxílio Brasil, previsto para ser liberado em setembro. O risco é que o número de famílias endividadas cresça.
O modelo de empréstimo realiza descontos automáticos no pagamento do Auxílio. Se por um lado permite ao tomador pagar uma dívida momentânea, torna muito mais fácil que se contraia novas dívidas devido aos menores pagamentos. Outro problema apontado pelos especialistas na liberação desse crédito são as taxas de juros, que são três vezes maiores do que os cobrados normalmente.
De acordo com a assistente social Paola Loureiro Carvalho, que é diretora de Relações Institucionais da Rede Brasileira de Renda Básica, a medida funciona mais como uma transferência de renda dos pobres diretamente para o sistema financeiro.
"As razões que atestam a crueldade dessa medida superam o âmbito econômico e atingem o plano ético. É consenso consolidado que do ponto de vista de política pública de combate à pobreza e aumento de bem-estar, o crédito em geral não deve ser prioridade", afirmou.
"Os consignados sequestram o caráter de proteção social dos benefícios ao entregar parte dos recursos ao sistema financeiro, em prejuízo da dignidade dos beneficiários. Sequestra o direito de se viver o futuro com dignidade ao submeter famílias em situação de desespero, em decorrência da miséria, à armadilha do empréstimo."